21/04/2020

Paquera em tempos de quarentena

Ana Carolina Carvalho


Com a ausência de encontros presenciais precisamos nos conhecer mais e saber quem fica. As fotos são um mero detalhe perto da profundidade que se pode alcançar em uma conversa. Profundidade essa perdida em muitos casos quando depois de uma conversa superficial, se marca um encontro, e a atração química fala mais alto. Nada contra. Até porque carinho, beijos, amassos e sexo são bons e em alguns casos muito bons, mas não é base de sustentação. Agora que não podemos sair para nos ver e tocar precisamos conversar, descobrir mais do outro, gravar menos áudios e ligar para uma conversa em tempo real, sem delay e travamentos. Voltamos no tempo em que conversávamos bastante antes de nos ver e a riqueza é inestimável. É como um encontro às cegas de detalhes físicos, mas é um encontro profundo de ideias, hobbies, situações familiares. Se descobre um novo amigo, alguém que lhe desperta o seu melhor ou não. Se seleciona mais. Se conhece, se quer fazer conhecer. É preciso voltar a lutar para fazer valer a pena. Para que o diálogo seja o centro. Sem nudes, sem masturbação ou sexo virtual. O mais importante é olhar o outro por dentro, ver os detalhes, a cor favorita, a alergia, aquele jogo no colégio que traz uma lembrança onde os dois gargalham mesmo estudando em tempos e colégios diferentes. Se descobrem os pontos em comum, se imaginam o futuro encontro. Se saí da zona de conforto de vários contatinhos superficiais e se busca um elo. Porque se descobre que o número não faz a menor diferença. Que quando ninguém tá vendo tudo que se quer mesmo é um colo seguro para descansar o peito e dormir em paz. É quarentena. Você também tem vantagens. A de voltar a olhar o outro como ser humano e não objeto de fácil uso e descartável é uma das maiores.

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por