22/05/2015

Não disse adeus

Ana Carolina Carvalho

Como não iniciar uma conversa se ela estava sentada num canto, olhando as unhas - sinal claro de que estava deslocada. Vez ou outra mudava a posição cruzada das pernas, ora a direita, ora a esquerda por cima - sinal de que estava intediada, louca para ir embora correndo daquele lugar, mas algo a prendia e ela tinha que ficar ali. Talvez o que ela não soubesse é que eu também desejava que ela ali estivesse. 
Os cabelos presos no que as garotas chamam de "rabo de cavalo", as sobrancelhas marcadas e uma expressão de "por qual motivo ainda estou aqui". A música mudou, ficou mais lenta. Era a minha hora. A convidei para dançar. Ela sorriu timidamente e disse que não sabia, que estava nervosa e quando isso costumava acontecer ela geralmente "falava pelos cotovelos", ou seja, falava demais. Quando me dei conta já sabia mais da vida dela em uma hora do que da minha própria, em uma existência inteira. 
Minha menina do sorriso tímido, minha dançarina de palavras frenéticas. Me conquistou por ser diferente de todas as outras, incluindo a forma de dizer adeus ou de não tê-lo dito. "Vou beber água. Preciso respirar." disse, depois de contar-me a vida e nunca mais voltou.

15/05/2015

Filmes de romance

Ana Carolina Carvalho

Ah, esses filmes são bons pra sonhar. 
Pra acreditar no amor que tudo enfrenta, pra pensar em beijo na chuva, em abraço apertado, em pra sempre. 

Filmes de romance me fazem imaginar que um dia eu vou ter um príncipe de verdade. Alguém que queira crescer junto, que me faça mais feliz que chocolate, que cante desafinado ao meu lado sem se importar, que me leve pra descobrir novos lugares, que me ensine e também aprenda. 

Que diga "eu te amo" com ações: ao me acordar depois de uma noite abraçadinhos e dizer, mesmo que eu esteja assanhada e com remela no olho, o quanto eu sou linda, que abra a porta do carro, que me dê flores sem motivos, que me ajude a cozinhar e faça disso um dos motivos da nossa diversão, que não seja machista e que tenha paciência quando a minha imaturidade falar mais alto. 

Sim, talvez seja difícil encontrar. 
Talvez eu precise aprender a esperar e certamente valerá a pena, pois já beijei muito sapo e não, eles nunca viraram príncipe...

14/05/2015

Quem nunca

Ana Carolina Carvalho

Ah, o amor.
O tipo da "coisa" que faz morder a língua.

Uma hora, em um passado não muito distante: "eu NUNCA vou me prestar a um papel desse. Que ridículo!", então na atualidade não só se presta ao papel ridículo como ainda dá um plus.

Ah, o amor.
Aquele sentimento que faz de bobo e ainda assim feliz.
Que faz descobrir inúmeros talentos antes desconhecidos, como: poesia, música, desenho, decoração e entre tantos até palhaço de circo.
Então...

QUEM NUNCA 

deu "cambalhotas" pra ver quem ama sorrir em um dia não tão bom, que enquanto a pessoa estava emburrada, de cara feia no canto, soltou: "te amo, viu?" e se sentiu a pessoa mais feliz do mundo por ter arrancado pelo menos um sorrisinho de canto de boca?

O amor é magico.
É lindo.
É sempre a melhor parte.
Se o amor vem de Deus, como então pode ser ruim amar?



© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por