28/01/2018

Precisa-se de atenção, urgente!

Ana Carolina Carvalho

Estava aguardando minha consulta médica.
Uma criança de aproximadamente 7 anos sentou à mesa de brinquedos, na recepção do consultório, e pediu a ajuda da mãe para montar uma casinha.
A mãe prontamente respondeu: " - Já vamos entrar, deixa eu ver seu exame." E ela, a criança, continuou pedindo, sem sucesso.
Depois, falou com o pai: "- Pai, me ajuda a fazer a cerca da casinha." E o pai, com os olhos fixos no celular, disse: " - Filha, deixa aí, vamos já entrar no consultório."
Ela continuou pedindo e nada.
A mãe e o pai , enquanto ela falava para as paredes, continuaram, agora juntos, olhando o mesmo aparelho telefônico e ela brincando sozinha.
Quando percebeu que o celular roubava a atenção, que deveria ser dela, foi lá e observou o que eles estavam fazendo.
A mãe disse: "- Volta a brincar, filha."
E ela em uma atitude, para mim desconcertante, deu um beijo na mãe e disse: "- eu te amo" , mas ainda assim, continuou a brincar só.
Falava em voz alta, acredito que para chamar atenção, porém sem êxito.
Agora, pai e mãe, já estavam entretidos em seus brinquedos digitais.

Vi esses dias, por meio da postagem de um amigo em uma rede social, que o modo avião do celular pode ser o modo de brincar, para que haja essa interação sem interrupções.
Faz todo sentido.

Em um mundo cada vez mais frenético por informações e presença virtual, a física e o olho no olho ficam como a criança no canto, tentando chamar atenção para o que verdadeiramente importa...

É tentar praticar o tal do amor em meio ao caos, diminuir a falta de atenção.
As crianças nos ensinam pelo amor que constrange. E nós, adultos, muitas vezes constrangemos a nós mesmos por agirmos como crianças magoadas, magoando outras crianças, deixando faltar o mais básico, fundamental, importantíssimo e real A-M-O-R.

19/01/2018

Conecte-se

Ana Carolina Carvalho

Não é um texto sobre tecnologia é de uma ligação com seu eu mais profundo.
Em um mundo cada vez mais de urgências, de descartáveis, de uso mutuo, é importante saber quem se é e os valores pelos quais vale a pena lutar.
Tudo passa muito rápido, as mensagens cada vez mais instantâneas, não se desliga nem para dormir. A realidade é que mesmo dormindo ainda se está acordado. A cada bip um susto e uma curiosidade sem fim de olhar a mensagem.
Se perde o celular (aquele "perder" dentro de casa) é uma loucura. O coração gela e se tem aquela sensação de estar vazio.
Esse vazio nos acompanha por toda a vida quando estamos desconectados. Ele é um vazio existencial, interior. 

Tudo é de dentro pra fora, não se engane. 

Assim como a vida que temos foi gerada dentro de alguém, preparada para depois vir ao mundo, a nossa conexão mais importante vem de dentro. É aquela com nós mesmos. Com o que nos importa, com o que nos faz amar, odiar, querer, não querer, fazer birra, ser sensatos.
O processo do autoconhecimento não finda, ele sempre se atualiza e transforma-se em outras questões.
O pensamento aos 13 anos não é o mesmo dos 25, que não é o mesmo dos 40, tampouco o dos 70. 

Não espere a velhice chegar para realizar
 o que se pode fazer hoje.
CONECTE-SE no presente.
 No aqui e agora.

Respire.
Vá a praia.
Beba água.
Experimente ficar 5 minutos por dia sem falar nada.
Julgue menos.
Ame mais.
Ouça o mar.
Viaje.
Leia.
Dance.
Cante.
Tome banho de chuva.
Cozinhe.

Faça as coisas mais simples, aquelas que lhe realizam e lhe permitem ser quem você é.

Todos nós temos inúmeros talentos basta descobri-los. Não é perfeição é talento. Talento para ouvir, caminhar, ajudar o outro. Talento para ter paciência com suas limitações. Talento para aprender a esperar as coisas acontecerem no tempo delas.

A conexão permite a paz. Ela lhe traz para tudo o que realmente importa: sua ligação com o hoje, com o presente, com a oportunidade de ser e ir descobrindo cada vez mais quem se é.

Não tem vontade de nada, absolutamente nada. Não sente mais desejo de viver?
Bom... o que você gostava de fazer quando tinha vontade de algo? Ver cachoeiras? Se obrigue a ver cachoeiras e elas lhe trarão de volta para você mesmo.

A conexão com o nosso eu nos faz saber onde estamos e para onde queremos ir.

O mundo está cheio de opiniões e ações erradas baseadas nelas (opiniões).
Que tal decidir por si mesmo?
Conecte-se

16/01/2018

Aos que já foram

Ana Carolina Carvalho

Oi.
Como está tudo aí em cima?
É verdade que o brilho de Deus é irresistível e quando se vê, já foi?
Como é o céu?
Você conhece me ver e ouvir daí ?
Sinto sua falta!!
Falta do seu cheiro, risada, abraço, do seu mau humor, um pouco menos, mas até disso tenho sentido falta ultimamente.

Não importa o tempo que passar sua lembrança é sempre presente.

Quando passeio pela casa e não te vejo sinto como estivesse aqui dormindo ou em cada cantinho mais isolado. Te sinto a cada café, ligar de tv, barulho de rádio, conversa na sala.

Falta um pedaço físico.

Nos meus aniversários, nos natais, carnavais, viagens, nos campeonatos de futebol. Na folia boa da noite do pijama. No mandar apagar a luz.
Ah, o seu cafuné!! Que segurança de que tudo ia ficar tão bem.
Colo que acalma, que tornava possível sentir com a alma pela ponta dos seus dedos em meus cabelos que tocava profundamente meu coração.
Hoje ele é só saudade.
Todo dia ele o é desde que você se foi, mas hoje sonhei com você. Pude te tocar, sentir tua mão na minha e aí acordei assustada com medo de você está aqui como um fantasma.
Nem consegui mais dormir.
Fiquei só pensando no que você me diria se eu não tivesse acordado e sorri.
Você me diria: Estou vendo tudo de camarote.
Vi que amadureceu, cresceu. Eu tenho muito orgulho de quem está se tornando.
Sempre lhe enxerguei assim, grande em AMOR.
Daqui vou intercedendo. Aqui em cima é o céu, literalmente! E, no seu tempo, você descobrirá o que é.
Sempre lhe guiarei e estarei com você.
Com amor,

11/01/2018

4 patas

Ana Carolina Carvalho

Já li em muitos lugares que os animais de estimação são anjos de 4 patas e concordo plenamente. Lembrei da Cindy,  a responsável pelos 14 anos mais intensos, barulhentos e cheios de amor lá de casa e também por fazer meu pai chorar na despedida tão sofrida. Aos 29 anos de vida essa foi a terceira vez que vi meu pai chorar.
Aprendemos com os bichos.
Pensamos que os ensinamos (damos palmadas educativas, banhamos, reclamamos do latido, ficamos enlouquecidos quando não fazem o xixi no tapete, fazem caca fora da caixinha de areia, ou vão atrás do lixo), mas na verdade eles que nos ensinam e a lição é sobre amor incondicional.
Um sexto sentido animal nos afaga. Pula na nossa cama nas noites de tristeza, se esfrega e pede carinho, quando na verdade está dando. Pede pra passear para distrair ou pega uma caixa qualquer para fazer barulho.
Nos dias de alegria sai correndo junto ou pula no sofá e fica ali banhando lentamente e olhando com aquela cara de "quê?".
Implicam com os paquerinhas e rola aquele ciumes básico, um latido para atrapalhar o beijo ou um arranhãozinho de leve. Depois de reconhecidos sossegam ou não. Depende muito se o candidato tem bom coração. E bicho sente. Ô se sente!
Não importa se cachorro, gato, cavalo, tartaruga.
Que tenham quatro, mais ou menos patas.
Os bichos tem uma forma própria de amar, de sentir, de se fazer presente e de se afastar quando a dor é latente.
Eles amam por amar e não exigem retorno. Não são egoístas, um pouco temperamentais talvez, mas na hora que o dono chama ( pausa para a verdade na qual eu acredito: o bicho escolhe seu dono) não tem para nada, ele está ali, de prontidão, com as asas que Deus deu para mostrar que o mundo pode ser cruel, mas em casa sempre haverá amor, lambidas, afagos, esfregões e escuta. Já que a linguagem do coração é sentida só com o olhar de: estou aqui e sim, eu me importo.

08/01/2018

Queria que a vida fosse um filme

Ana Carolina Carvalho

Meu nome é Júlia e eu tenho 32 anos.
Solteira, lisa, leia-se desprovida de bens materiais e saldo positivo nas finanças - fica mais bonito - e moro com meus pais. 
Terminei o primeiro, único e último namoro aos 30 e desde lá não sei nem o que é um fica fixo, mas vamos pular essa parte.
Me sinto só, mas o Zuca preenche alguns vazios. 
Um dia, saindo de mais uma entrevista de emprego, sem sucesso, fui ligar para a minha mãe para comunicar o ocorrido e só ouvi assim:

" - Minha filha, o que acontece com você? Porque não se encaixa em nada? Você tem tanto potencial". 

Os olhos cheios de lágrimas não me deixaram ver o ônibus (poderia ter sido um Lamborguini, mas foi um busão mesmo) e é aí que a história começa! 



© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por