24/07/2019

Sem filtro

Ana Carolina Carvalho

Criei coragem. Liguei pra ele. Ele rejeitou a ligação. Não me atendeu. Fui no aplicativo de mensagens instantâneas e soltei tudo. Tudo que estava entalado na minha garganta. Falei pra ele que o amava, mas que estava cansada de amar só. Cobrei amor, é verdade. Fui para minha criança e crianças não sabem se relacionar como mulheres, pois são crianças. Fiz birra, bati o pé. Perdi o filtro, eu sei, mas agora é tarde. Tarde para dizer sinto muito, para reequilibrar a relação, para tentar fazer ser. Mas não é tarde para recuperar o respeito próprio, o equilíbrio e a forma leve de encarar a vida. Acontece. Se perde o filtro muitas vezes. Se perde a noção. Se magoa por querer, sim! Coloca o dedo na própria ferida e deixa lá para sangrar. Se cobra demais. Tudo demais! Os excessos e as faltas. O turbilhão e o sossego. Tudo desordenado buscando a segurança que traz paz. Na verdade, buscando o filtro, aquele seletor sábio que identifica as armadilhas do ego, da criança ferida, da vitimização e ajuda o adulto saudável a assumir o controle e o papel de observador analítico. 
Deixei o telefone no canto. Fui tomar um banho gelado. Hora de recuperar o filtro e começar de novo.

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por