12/08/2020

Para as vítimas da Covid-19

Ana Carolina Carvalho

 Sinto muito se vocês tiveram uma morte precoce e me perdoem por não saber todos os nomes. Foram muitas, muitas pessoas. Mais de 100 mil só no País que eu vivo (Brasil).

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As pessoas dizem que não querem falar de mortes, que é ruim, que se passa mal e tudo se transforma em uma grande tristeza e de fato se transforma mesmo, mas o que dizer para alguém da família de vocês que não pode se despedir, velar e enterrar de forma calorosa? O que dizer para eles que não puderam ver e sentir o luto? Como evitar a dor de perder subitamente pai, mãe, filho (a), irmão(ã), sogra(o), cunhado(a), todas as categorias de indivíduos da árvore genealógica? Não se evita.

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Alguns consideram sensacionalismo da mídia que dramatiza e só fala de morte e doença o tempo todo. E é um verdadeiro drama. Um drama na essência da palavra. É um grande sofrimento. Uma imensa aflição. É o drama de vocês que morreram sem ar, sem vaga em hospital, sem o calor e amor da família. É o drama dos familiares sem notícias recorrendo a todo tipo de ajuda para conseguir um leito, uma olhar atento.

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É o drama dos profissionais da saúde exaustos trabalhando com o mínimo necessário, às vezes nem isso. É o drama dos profissionais da imprensa vistos como vilões e urubus. É o drama do pai e da mãe de família isolados do contato com os filhos e pais, porque precisam trabalhar.

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É o drama de uma nação inteira que chora seus mortos e que também chora seus vivos. Um choro de decepção por aqueles que cansados de se isolar começaram a fazer aglomerações em festinhas privadas para sair do tédio. É o drama de uma nação solidária de encontro a uma nação egoísta que se recusa a encarar vocês, os mortos, que se tornaram números tão fáceis de serem esquecidos para muitas pessoas. É o drama da família que sabe o nome completo e a ausência que faz o ente querido.


Peço perdão a vocês mais de 100 mil vezes por termos falhado e continuarmos falhando enquanto planeta terra. Por nos sentirmos acima do bem e do mal e não olharmos com sensibilidade para as vidas que foram ceifadas.

Não é culpa de Deus e certamente vocês já sabem disso. Ele deu o livre arbítrio e nós continuamos a usá-lo para dar um jeitinho, afinal é só uma gripezinha. Pena que mais de 100 mil pessoas não resistiram a ela.

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Sinto muito.

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por