11/10/2016
Ana Carolina Carvalho


Fiquei observando-a levar mais um fora, mas dessa vez não ri alto, ri em silêncio. Já a analiso tem tempos e ela insiste sempre em amar o outro antes de amar a si mesma.
Não sei de onde ela tirou a ideia que o amor que devota ao outro é mais importante do que o que devota a si.
A vi deitar e chorar até dormir. A vi acordar de olhos inchados e sem dar uma palavra sair de casa, pegar um ônibus qualquer e chorar por todo o trajeto desconhecido.
Deu murro em árvores, se machucou, mas a dor que gritava latente no peito era do coração cansado de dizer: " - se ame, me ame, nos ame. Por favor,eu suplico, não aguento mais."
Ela, como se externalizasse o que gritava o coração, olhou pro céu e disse: "- Faz parar de doer, eu não aguento mais."
No coração dela calou a resposta: "- Você quem procura dor, filha. Você que insiste em histórias acabadas, sejam elas mal acabadas ou não, você que insiste em reviver o passado, em querer tudo. Pare. Respire. O que você quer só você pode se dar da forma mais plena e única. Dedique seu tempo para si."
Ela não queria. Chorou copiosamente. Chutou a grama, bateu em si mesma. Engoliu a seco a dor de não se amar, não por não ser capaz, mas por não querer, porque ela sabia que exigiria grandes mudanças e ela não queria fazê-las. Não enxergava nela mesma o que o mundo via: LUZ.
Ficou pensativa por horas, pegou a caneta e escreveu no pulso (re)começo . O "re" entre parenteses representava a ré para que ela sempre lembrasse da certeza de que não quer mais olhar para trás. E que sempre é tempo de um novo começo.
Quem sou eu?
O anjo dela. Não me julgue. Às vezes ela precisa sentir dor para aprender o valor que tem.

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por