17/09/2019

Adeus, mundo cruel!

Ana Carolina Carvalho

Se você está lendo essa carta agora é porque eu já consegui dar fim a minha dor. As mutilações já não faziam mais efeito para sanar a dor, os medicamentos desaceleravam um pouco meu cérebro e eu ficava na dúvida se era isso mesmo que eu deveria fazer. Se Deus me deu a vida só Ele tem o poder de tirá-la, eu sei disso, mas por mais que eu o ame não estou conseguindo ver saída. Meus amigos se afastaram de mim, mesmo os que mais me amam. Não duvido que me amem, mas me acham pesada. Me olham e ficam com vontade de chorar e falando frases de efeito como: saí dessa. Vamos lá levanta, cadê aquela pessoa que eu conheço. Eu fico pior. Pior por ver sofrer mais ainda as pessoas que eu amo e eu ser a culpada disso. Pior porque acham que é falta de vontade, mas não é. Eu tenho vontade, mas não tenho forças e coragem. Eu queria que alguém me colocasse no colo e dissesse eu estou aqui, vou descobrir uma forma de fazer parar de doer, vamos descobrir juntos como fazer dar certo, como aliviar as dores. Não é drama, não é falta de Deus, é um vazio, eu compreendo.
O mundo é cruel com quem é considerado frágil, com quem é das artes, com quem espera viver levando a felicidade. O mundo ensina a competir, a revidar, a não insistir em amar o difícil, ele ensina um amor egoísta disfarçado de amor próprio, um amor que só faz o que agrada a si mesmo, que usa, um amor de mentira.
Avisa aos meus pais que não foi culpa deles. Eles fizeram o que podiam e até mesmo quando abriam a janela do meu quarto sem permissão era um ato desesperado deles de me ver voltar a vida. Peça para que eles me perdoem pela dor que vou causar a eles a cada vez que entrarem no meu quarto e verem o que eu podia ter sido e não fui.
Desculpa por te mandar uma mensagem pedindo para você vir aqui me ver nessa situação. Talvez você nunca se recupere dessa cena. Por favor, me perdoa por isso. Mas eu não pensei em outra pessoa que pudesse compreender mais essa situação do que você.
Obrigada por ter atendido as ligações de madrugada, as ameaças de fazê-lo e por ter me resgatado tantas vezes durante esses anos.
Reze por mim.
Com amor,

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por