25/12/2016
Ana Carolina Carvalho

Ela agradeceu antes de dormir e pediu a Deus que a desse tempo. Na verdade desse tempo aos seus pais, avós, tios, primos, irmãos, sobrinhos. Tempo para que ela possa conviver por muitos mais anos. Muito mais. Que possa abraçar, dizer que ama, sentir o calor do corpo, ter colo, cafuné, comida pronta, roupa lavada. Tempo para que eles presenciem suas conquistas e deem a mão para ela nas derrotas. Tempo que os faça ter mais paciência uns com os outros. 
Pediu vários dias com 48 horas, para que as outras 24 sejam só para ficar agarradinha com cada um. Ela chorou ao pensar que amanhã pode não ter mais alguns deles, que os pode perder até reencontrar novamente no céu.
Chorou pois lembrou de quem já perdeu; deu uma saudade imensa e a vontade de dizer: "- Ei! Volta aqui. Deixa eu te abraçar mais uma vez. Aquele abraço de mil anos."
Nessa época do ano ela fica mais sensível. 

Ela tem medo de perder. 
Não lida bem com perdas e despedidas. 
Tem medo de ficar só.

Por isso ela ama, diz que ama e já não perde mais tempo com bobagens de ficar sem falar, de ter raivinha. 
Ela vê filme com o pai e apoia a cabeça no peito dele pra ouvir o coração. 
Conversa com a mãe, olha nos olhos dela e diz que a ama do nada. 
E proíbe as pessoas de morrer antes de a verem casar.
Ela quer tê-los perto enquanto vida ela tiver. E isso é maluco. Pela natureza quem gerou vai primeiro. Só esqueceram de pensar na dor de quem fica. 
Você só tem o hoje. Não deixe de ser grato e amar. A vida é um sopro.


*texto originalmente publicado no instagram @podiasercorderosa

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por