07/02/2017
Ana Carolina Carvalho

Ela estava em meus braços, aninhada. Naquele momento nada a poderia perturbar, nem causar nenhum mal. Ela dormira depois de tanto chorar e na serenidade daquele sono as mãos relaxaram, mas na forma com que repousavam em meu peito era possível ver claramente o desalento dela.

Não queria me deixar ir e a minha dor em deixá-la era enorme, mas nada mais poderia ser feito. Fomos felizes, já não estávamos bem e o futuro mostrava uma incompatibilidade terrível, onde um buscaria mudar o outro e acabaria um de nós sendo infeliz. Eu não queria isso para a minha menina.

A conheci adolescente, eu mais velho 8 anos, ela tinha 10 e eu 18 e sempre a achei muito, mais muito bonita. Ela corria de mim na época e só parou de brincar de boneca aos 15, não tinha mais companhia. Quando ela fez 19 deu o primeiro beijo e eu já estava na faculdade e já havia namorado meio mundo aos 27 anos.

Na festa dela de 20 anos, duas décadas e ela queria comemorar, eu fui de penetra e dei um jeito de ficar colega dela. Ela estava deslumbrante, já na faculdade de psicologia, cheia das opiniões sobre tudo, e olhava as pessoas como se pudesse descobrir qual transtorno tinham, porque para ela todos tinham monstros e traços de transtorno. Eu fui me apresentar e ela disse: " - Carlos, que surpresa, eu nem te convidei." Fiquei ruborizado, mas não perdi a pose e respondi: " - sou a surpresa.", ela replicou: "- está mais pra susto, mas já que veio fique a vontade." Riu e me deu as costas.

Passei a festa inteira a admirar a beleza dela e toda a desenvoltura dessa adulta que eu conheci menina. Ela já não corria dos meninos, dançava de forma despretensiosa, mas que atingia o coração dos homens em cheio, dos moleques, dos adolescentes...

Agora pensando na cena meu coração se encheu de alegria. Quando ela acordou, esfregou o rosto contra o meu peito, apoiou o queixo olhou para mim e sorriu. Nossos lábios se encontraram e demos o beijo de despedida.

Ela ficou mais um tempo deitada ao meu lado com pensamentos a esmo. Sentou na cama, depois ficou em pé e começou a pular. Olhou pra mim e disse: "- deixo aqui tudo o que não é meu. me livro dos excessos e dos nós. Seremos felizes no futuro, cada um no seu. Caso nos encontremos será um prazer enorme lhe rever."

E se foi com a desenvoltura que me fez a admira-la há anos atrás e que naquele instante me fez admirá-la ainda mais.

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por