27/02/2018

Geração 1988

Ana Carolina Carvalho

Uma geração que teria feito tudo diferente. Que criou expectativas demais, que foi treinada para ser a melhor (individualmente), mas que não foi avisada que a maioria dessa geração também.

Poderia dizer uma geração de frustrados, mas essa palavra é pesada demais.

É a geração da busca, das perguntas, da vontade de querer entender o porquê das coisas estarem assim...

É uma geração que caminha na dúvida entre a estabilidade e o prazer de querer fazer tudo que quiser e se for ao mesmo tempo melhor ainda.

Uma geração de exceções.

Alguns dizem que foi uma geração prejudicada pelas músicas e acontecimentos dos anos 90, mas eu sinceramente acredito que não.

Nós, que completamos 30 anos em 2018, somos fortes, inteligentes, sagazes. Somos confusos, é verdade, salvo raros casos, mas estamos aprendendo a ver a beleza do caminho.

Somos ansiosos porque nos programaram (não por mal) para nessa idade já ser independentes, ter uma carreira estável e invejável; ter filhos, uma boa casa e dar conta de tudo.

Bom, nesse meio tempo o casamento, para alguns, já não é mais o plano principal, pois mudou para a carreira e, sendo assim, ficar na casa dos pais até essa idade (ou mais) possibilita tentar alguma economia já que o sucesso promissor ainda não decolou. O que não evita atritos já que já tem personalidade, vícios e forma de agir e ser formadas que nem sempre (quase nunca) combina com a dos pais.

Para outros, o casamento veio por acaso e foi uma grata surpresa. O casal se apoia e cresce junto. Os filhos também já correm por aí e enchem de amor, alegria, preocupações...

Tem os que começaram a namorar na escola, seguiram namorando e são casados.

Os que tiveram filhos bem jovens sem nem namorar...

Uns abriram mão de muitas coisas para trabalhar bem cedo, independente de filhos, outros deixaram os sonhos pra lá, alguns deixaram as crias, e tem ainda os que enfrentaram todas as dificuldades de seus vários papeis, e foram, mesmo bem jovens os melhores pais e mães possíveis. Amadureceram no tempo deles.

Tempo esse que é diferente  para cada um de nós.

Muitos estão na segunda formação, pois a primeira não foi bem o que se esperava...

Com 30 anos e nada resolvido a maioria dos nascidos em 1988 vai em busca de resolver. Mais maduros e decididos. Em sintonia com o próprio "eu", com o que quer ser por hoje. Já que aprendemos que o futuro é tempo demais. Afinal, somos a geração das mudanças, de líderes, a geração que surpreende.

Eu tenho orgulho de pertencer a essa geração, das nossas condições e inquietações.

Nossa busca pelo autoconhecimento nos permite ser mais generosos com os outros. Isso hoje pode não importar, mas deixaremos um belo legado para o que há de vir.

Estamos espalhados pelo mundo completando 3 décadas de vida. Estamos lutando por independência e temos mais consciência de nós mesmos há pelo menos metade delas.

Ouvimos que o mundo ia acabar várias vezes. Tememos a chegada dos anos 2000. Muitos de nós foram às ruas, organizaram manifestações pacíficas pelas redes sociais. Não nos calamos.

Se éramos muito pequenos, recém nascidos, para entender a grande conquista da nova constituição, a de 1988, hoje observamos e respondemos aos direitos que estão nos sendo retirados.

Em 30 anos muita coisa mudou ...
de fora para dentro e de dentro para fora.

Se no ano em que nascemos não tivemos como entender o assassinato de Chico Mendes (que ganhou repercussão mundial por ele ser uma referência na luta pela preservação da Amazônia e ter sido assassinado no quintal da própria casa indo para o banho) hoje, 30 anos depois, casos de violência como o da travesti Dandara, que foi espancada até a morte, por ela ser simplesmente quem ela era também não conseguimos entender. A falta de respeito pelo trajeto de outro há 30 anos nos acompanha e não há explicação. Uns morrem por incomodar elites em defesa de direitos outros morrem porque exercem , ou tentam, o direito de ser quem são.

A geração de 88 é cheia de talentos, de amor, de pessoas que lutam para transformar o interno e partir para o externo.

Uma geração que está reaprendendo a programar o cérebro para entender que menos pode ser mais , que não existe problema em dividir, que a divisão também soma e multiplica.

Geração que cresceu com Angélica, Xuxa, Backstreet Boys, Spice Girls, Sandy & Júnior, Hanson,  Tv Colosso, Raimundos, Gugu, super nitendo, corda, elástico, amarelinha, bolinha de gude, bandeira, tazzo, geloucos,  revista capricho, nome de amigos nas fardas de colégio no final do ano, cabelo pintado de papel crepom, sapino, futebol nos campinhos de areia, bicicleta, e depois de muitas brincadeiras na rua com os amigos (carimba, gato mia, pega pega, esconde esconde) corriam todos pra casa da tia e bebiam aquele "copo de água" bem gelada e sem tirar da boca nem pra respirar!

CD's, Fitas cassete, fitas de vídeo, aqui em Fortaleza a bombombox, beira-mar sem aterro, menos violência.

Que leu "Ventinho gostoso e Gotinha de orvalho" da Sandra Branco e Roberto Caldas, "A droga do amor", "Mariana" e vários outros livros do Pedro Bandeira...

Que leu Harry Potter, que fez ballet, natação, jazz, sapateado, curso de inglês, basquete, vôlei, tudo ao mesmo tempo...

Uma geração que nunca parou e não vai parar, agora sabendo que cada um, no seu ritmo, descobre que a banda toca de forma autoral e isso não impede as participações especiais que devem acontecer muitas e muitas vezes.

Pertenço a geração de 88. Tenho orgulho de pertencer.

Uma geração de coração dócil e amável, que foi ensinada que na vida se vencia por mérito, aprendeu que não.

Aprendeu que precisa estudar, ralar muito, fazer boas amizades e não se encucar. Aprendeu nas histórias que o bem sempre vence o mau, mesmo que a realidade que acompanha mostre um cenário desfavorável e por isto não desiste.

Aprendeu a duras penas e ainda aprende que é melhor morrer lutando pelo que se quer, ser quem é e conquistar o que quer, do que aceitar participar do jogo da zona de conforto, da forma que adoece para assumir o que não se é.

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4 comentários:

  1. Que belo texto,Ana!!!! Super me identifiquei com suas palavras.Sou muito feliz por ser da geração de 88,em meio a tantas mudanças e descobertas do mundo.Obrigada por este texto, sim, somos de 88 e vamos trintar com muita alegria!!!!!!!!!!!

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    1. Vamos sim! Os 30 são um marco na vida de todos, assim como os 15. Convenção ou não, faz um bocado de sentido, não é? Que sejamos felizes, diariamente!
      :**

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  2. Eu não tenho palavras para descrever o que senti ao ler esse texto. Revive momentos...Eu li "Mariana" eu brinquei de esconde- esconde, eu cheguei na casa da tia e tomei um copo de água bem gelada sem respirar... Eu casei mais não cheguei onde quero na minha vida profissional...Enfim... Texto maravilhoso.Nao teve como nao chorar, cada linha uma emoção. Parabéns! Por esse texto, por esse sucesso, te admiro, muiiito. Bjos Eu ja trinteiiii esse ano kkkkk bjos Gabi

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    1. Gabi, que felicidade! Que bom que se identificou e lhe trouxe MUITAS lembranças. Sobre sua vida profissional eu tenho certeza que você chegará onde quiser :)

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por