22/05/2015

Não disse adeus

Ana Carolina Carvalho

Como não iniciar uma conversa se ela estava sentada num canto, olhando as unhas - sinal claro de que estava deslocada. Vez ou outra mudava a posição cruzada das pernas, ora a direita, ora a esquerda por cima - sinal de que estava intediada, louca para ir embora correndo daquele lugar, mas algo a prendia e ela tinha que ficar ali. Talvez o que ela não soubesse é que eu também desejava que ela ali estivesse. 
Os cabelos presos no que as garotas chamam de "rabo de cavalo", as sobrancelhas marcadas e uma expressão de "por qual motivo ainda estou aqui". A música mudou, ficou mais lenta. Era a minha hora. A convidei para dançar. Ela sorriu timidamente e disse que não sabia, que estava nervosa e quando isso costumava acontecer ela geralmente "falava pelos cotovelos", ou seja, falava demais. Quando me dei conta já sabia mais da vida dela em uma hora do que da minha própria, em uma existência inteira. 
Minha menina do sorriso tímido, minha dançarina de palavras frenéticas. Me conquistou por ser diferente de todas as outras, incluindo a forma de dizer adeus ou de não tê-lo dito. "Vou beber água. Preciso respirar." disse, depois de contar-me a vida e nunca mais voltou.

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por