11/02/2014

Mais um dia sem falar com ele

Ana Carolina Carvalho

Atire a primeira pedra quem nunca disse dezenas de vezes :

"É a última vez que eu falo com ele. Juro!" 

e tornou a falar mais algumas dezenas de vezes, mesmo sabendo que não é você quem ele quer.

Ele foi embora, disse adeus, não quis mais e você deve esquecê-lo, sabe disso, mas você não quer.

Ao invés de esquecer o cultua, se apega aos detalhes mais felizes e românticos que tiveram. A primeira dança, o primeiro beijo, a surpresa do fim de semana - aquele em que ele apareceu com um buquê de rosas e disse: "você é muito especial para mim.".

Se apega as fotografias e vê como aquele sorriso dele é enigmático e traz uma pitadinha de safadeza - como um tempero que vicia e torna o uso obrigatório, toda semana, para a vida ter mais sabor...

Você gosta de lembrar quem era quando estava com ele e acha tão sem graça a sua presença sozinha, tão solta, sem referência, sem as mãos dele segurando sua cintura ou entrelaçadas com as suas.

Então você olha o celular vê a foto dele no perfil do aplicativo de mensagens instantâneas e pensa:

" - Ah, posso dizer que ele esqueceu o livro comigo e que eu posso ir deixar, posso dizer "oi" e vê se ele responde... "

Desiste; fecha o aplicativo, porque sabe que ele não vai responder.

E então você promete (muda a palavra para ver se dar certo, já que quebrou o juramento), promete decididamente a não falar mais com ele, a esperar ele falar e fica esperando e entoando o mantra "mais um dia sem falar com ele" e assim, dia após dia, você vai vivendo.

O que era o "insubstituível" vai ganhando a importância do seu bichinho de pelúcia favorito: Você lembra com carinho, mas não tem mais a menor ideia de onde esteja e nem faz mais questão de procurar.

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© Podia ser cor de rosa • Ilustração por Juliana Rabelo Desenvolvimento com por